TRATA-SE DE UM GRANDE DESAFIO QUE NÃO PODE MAIS AGUARDAR PARA SER ENFRENTADO,
VISTO QUE OS SINAIS DE QUE ESTAMOS DIANTE DE UMA SITUAÇÃO LIMITE SÃO MUITO MAIS
CLAROS DO QUE HÁ 20 ANOS
José Dirceu
Mesmo diante do pessimismo que a ronda desde suas reuniões
preparatórias, no começo deste ano, a Rio+20, Conferência das Nações Unidas
sobre Desenvolvimento Sustentável, iniciou-se em um clima de esperança e crença
de que a inovação e a utilização de novas tecnologias são as peças-chave para
que se encontrem alternativas que permitam às gerações futuras viverem em um
mundo melhor.
É certo que a Rio+20 acontece em um momento crítico para as nações
desenvolvidas, mergulhadas em uma crise financeira que lhes tira do foco a
conferência e a disposição para assumirem compromissos maiores para com o
desenvolvimento sustentável, o que justifica, em partes, a sensação de que a
cúpula será esvaziada.
As nações em desenvolvimento, em especial a China, também estão
cautelosas em comprometer-se com metas ambiciosas que possam arrefecer o seu
crescimento. Contudo, é justamente esse impasse, que aponta não haver contexto
favorável para a tomada de grandes decisões, o principal motivo pelo qual
devemos atualizar nossa visão, discutir possibilidades, propor metas e ações
que nos coloquem nos trilhos do desenvolvimento sustentável.
Trata-se de um grande desafio que não pode mais aguardar para ser
enfrentado, visto que os sinais de que estamos diante de uma situação limite
são muito mais claros do que há 20 anos.
O que temos hoje a nosso favor, além de maior mobilização social em
torno das temáticas que serão debatidas, é a consciência de que a alternativa a
esse novo paradigma de desenvolvimento que pretendemos tem o campo da Ciência,
Tecnologia e Inovação como principal aliado.
A questão central agora não se refere mais a o que fazer, mas, sim, em
como fazer, e as respostas a essa pergunta passarão certamente por temas como
economia verde, biotecnologia, química verde e novos padrões de produção que
envolvam processos mais eficientes, limpos e seguros.
"O futuro que queremos" —título com o qual foi pré batizado o
documento final da Rio+20, em que serão apontadas as metas de desenvolvimento
sustentável para as nações— já está sendo desenhado por essas áreas do
conhecimento. As nações devem acreditar e invistir nesse caminho, uma vez que,
para lidar com questões como redução do consumo de energia, diminuição ou
substituição de produtos químicos perigosos e a destinação de resíduos, o
acesso à tecnologia e inovação é imprescindível.
Ao contrário do pensamento corrente de que esse novo modelo de
desenvolvimento é muito dispendioso, especialistas vêm alertando para o fato de
oferecerem mais oportunidades do que dificuldades. Tratamento de resíduos,
produção de biocombustíveis e reciclagem são exemplos de atividades nas quais essas
oportunidades já são largamente aproveitadas.
No Brasil, o setor de biocombustíveis emprega 889 mil pessoas. Na China,
o setor de energia solar emprega 800 mil. A projeção é que 1,3 milhão de novos
empregos possam ser criados no setor de energia renovável até 2020. No
agronegócio, também temos exemplos de sucesso da aplicação da química verde,
por exemplo, na cadeia produtiva de cana-de-açúcar.
Em palestra sobre Química Verde e oportunidades, proferida no segundo
dia da Rio+20, o professor José Vítor Bomtempo Martins afirmou que processos
inovadores estão oferecendo grande contribuição à bioindústria brasileira.
Porém, ressalta ele, a internalização de novas tecnologias é fundamental para
que o Brasil mantenha sua vantagem competitiva e acompanhe a bioindústria do
futuro.
O Brasil tem credenciais e voz ativa nos debates, pois já está buscando
nesta seara as soluções para os seus problemas de desenvolvimento. Além disso,
temos uma matriz energética mais limpa que a de muitos países, grandes áreas
preservadas de florestas e um patrimônio invejável de biodiversidade.
Claro que ainda temos um longo trajeto a percorrer. Precisamos evoluir
mais e investir massivamente em Educação, Ciência e Tecnologia, para que nosso
imenso potencial seja adequadamente aproveitado, de forma sustentável —com
crescimento, inclusão social e proteção ao meio ambiente.
Como bem esclareceu a presidenta, Dilma Rousseff, ao dar boas-vindas aos
participantes da conferência, o meio ambiente faz parte da visão de incluir e
crescer, pois em cada uma delas está imbuído o sentido de preservar e
conservar.
A Rio+20, mesmo com toda a divergência acerca de seus possíveis
resultados, sem dúvida, já nos oferece um saldo muito positivo ao levantar
questões que nos ajudam a pensar em propostas e diretrizes que, cada vez mais,
farão parte da agenda da sustentabilidade.
Vamos acompanhar e trabalhar para que o desafio seja abraçado por todos
e para que os resultados superem as expectativas, apontando horizontes mais
esperançosos para o futuro do planeta e das próximas gerações.
José Dirceu, 66, é advogado, ex-ministro da Casa Civil e membro do
Diretório Nacional do PT
http://brasil247.com/pt/247/ecologia/65028/Rio20-um-desafio-de-todos.htm
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