Sonho que as crianças, do mundo todo, possam dormir quentinhas, com suas barriguinhas cheias, longe de toda e qualquer agressão física, sexual, moral ou intelectual e que todas possam usufruir das alegrias de uma infância linda e protegida. Sonho que tenham um futuro maravilhoso. Não só as crianças de hoje, mas também seus filhos, os filhos de seus filhos e também os filhos destes. Sonho com um planeta protegido, com medidas que eliminem a cobiça que destrói nosso porvir!

sexta-feira, 29 de março de 2013

Reflexões quase cinquetenárias!


1º de abril de 1964, ainda guri, nem 9 anos completos e já via no monumento ao expedicionário, palco de manifestação dia 31 de março, durante o bric em Porto Alegre, dezenas de tanques confirmando que algo de diferente ocorria em nossa cidade e em nosso país.
Vinha acompanhando as apreensões que o vozerio da imprensa da época (velho PIG já de garras de fora) causavam em minha família, típica classe média - e como Marx descrevia, reacionária, preocupada com a 'comunização' do Brasil há pouco 'propagada' pela manifestação na Central do Brasil, no Rio de Janeiro - que tremia de medo de um golpe que esta mesma imprensa venal dizia estar sendo preparada pelo outro lado - pelo lado dos que defendiam a constituição e a normalidade democrática.
A imprensa, os IBAD's e as já vestuscas TFP e congêneres clamavam pela 'proximidade' do golpe que na verdade há anos estava sendo preparada pela direita.
Em 1954, Vargas abortou uma com seu suicídio, em 1961, Brizola deteu outra tentativa com a heiróica campanha pela Legalidade.
Após estas derrotas a direita se instrumentalizou coisa que hoje busca a re-fazer com seu desprezível 'milenium', buscando consistência ideológica e a repetição das velhas mentiras infinitamente, buscando sua aceitação como verdades.
Em 1968/69 eu com 13/14 anos, mal acompanhei, aqui de Porto Alegre as diversas manifestações ocorridas no eixo Rio-São Paulo, das quais tinha alguma idéia com a revista Realidade com suas fotos que me impressionavam. Só sentia que algo tinha no ar, estudante que era do julinho - berço do movimento estudantil secundarista - mas com a distância que um 'filho do diretor' do colégio permitia.
No início dos anos 70, aproveitando-se de minha condição de 'filho do diretor' - insuspeito - pediram-me para datilografar em 'estêncil' um opúsculo que, página a páginam com a dificuldade de um neófito na velha lettera 22 me causou profunda reflexão.

"Um espectro ronda a Europa..." Já a primeira linha me impressionou e fui capítulo a capitulo num crescendo de expectativa e esclarecimento que aquelas palavras iam causando em meu irriquieto intelecto.
Realizei meu intento por completo, com a meior compreensão possível que aquele texto me induzia e entreguei - orgulhoso - os estencils para que fossem reproduzidos em álcool, como costume naquela época aos que me encomendaram, de turma mais adiantada que a minha no velho Julinho.
Segui mais alguns anos completamente alijado - assim como a maioria da população brasileira - do quadro sombrio que se executava dentro dos aparatos de repressão, longe dos olhos de nossa população - como até hoje. Se via apenas alguns protestos de rua, como o de mais vagas para a universidade. O mais, que saia na grande imprensa, eram sequestros deste ou aquele consul causados por 'terroristas' estampados em cartazes distribuidos em todos os cantos, muitos dos quais já 'desaparecidos' como vim a saber no futuro.
Ao entrar na Faculdade, em 1974, comecei a tomar pé do que ocorria em nosso país. Das famílias separadas de seus entes queridos, da tortura inominável praticada como política de estado e da falta das liberdades fundamentais do ser humano.
Inicio então minha militância política - organicamente - em grupos da UFRGS onde fui vice-presidente do DCE na gestão 76/77, tendo concorrido a presidência, na gestão seguinte, sem sucesso.
Anos de efervescência política com a retomada das ruas em nossos protestos. Ali também tínhamos a imprensa contra nossa luta: lembro de um acidente de um policial repressor, que tropeçou na mangueira d'água que iria ser lançada contra os estudantes e quebrou um braço. No dia seguinte, nas manchetes o 'pobre'  policial tinha sido vítima nossa! O máximo que agredíamos eram os cassetetes com nosso corpo e nossa cabeça!

Era a luta pela Anistia, pela volta dos exilados, pela liberdade de expressão e pela reorganização da UNE.
Neste quadro passo a trabalhar e a participar, como bancário, do movimento sindical.
Ao lado de Olívio Dutra, do Felipão e de muitos outros militantes demos os primeiros passos em nossa reorganização intra-sindical, embrião do que seria a CUT.
Lembro de ter participado do ENTOES, encontro nacional em oposição à extrutura sindical. Aí já ao lado de companheiros de todo o país. Lula estava lá.
Lula que conheci na sede de nosso Sindicato dos Bancários, ainda meio desconfiado por ele ter reclamado dos estudantes. Ainda tinha fortes laços com o 'ME' quando li uma pergunta que lhe fizeram sobre nosso movimento, se ele auxiliava ou não o dele.
Disse, para desagrado meu, que enquanto estudantes as lutas eram aliadas, mas depois que se formavam, entravam nas fábricas e ficavam do lado dos patrões.
Mal sabia eu da verdade de suas palavras.
As lutas foram se sucedendo, a UNE voltou, a CUT, aparece o MST e, contra todas as expectativas, conseguimos após hercúlea luta, criar nosso Partido dos Trabalhadores.
Neste ano, 1980, morava já a um ano no Rio de Janeiro, visto estar queimado no RS por minha atuação sindical e não consegui ir ao Colégio Sion, estava sem folga e sem dinheiro, mas companheiros nossos do movimento pró PT, que participei ativamente naquela cidade, participaram da fundação.
Assim que o companheiro Olívio foi ao Rio, creio que na posse dos bancários do Rio, em 1980, mandei através dele minha ficha de filiação pois meu título ainda era de Porto Alegre.
Mas no Rio também fiquei mais próximo de dezenas de famílias de desaparecidos políticos, tive maior conhecimento das barbáries que eram comuns nos porões da ditadura. Acompanhei a volta dos exilados e sua reitengração na política brasileira e senti bem próximo à pele os atentados ao Rio Centro e contra a OAB, com a morte de Dª Lyda Monteiro.
Mais relatos e a sombra daquela repressão não parecia terminar. E até hoje ela é muito pouco vista.
Há muito que se esclarecer com a Comissão da Verdade, são inúmeros assassinatos que a sociedade exige serem esclarecidos.
São torturas e torturadores a serem também conhecidos e a  recente manifestação de militar aposentado dizendo que queríamos esquecer o 31 de março para mim tem efeito inverso.
Quem quer que nos esqueçamos são os torturadores, os assassinos impunes, os estrupadores e violadores de todas as patentes.
Que não se deixa crime algum sem investigação, que sejam conhecidos os torturadores, que se cumpra a determinação de organismos internacionais que condenam a anistia recíproca, aprovada por um congresso amordaçado e que, finalmente, seja feita a justiça!
Saroba

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