É fácil resolver o problema dos médicos.
Não precisa muita coisa.
Basta que aqueles que se matricularem em instituição
pública ou se formarem através de recursos públicos tenham como obrigação um
período mínimo de dois anos, por exemplo, para a prestação de uma espécie de
serviço social.
Assim, sem a balburdia daqueles futuros médicos que se formam
em instituições particulares, que não usam dinheiro público e fazem do curso de
medicina um investimento.
Aliás, já está é tempo das elites que tanto elogiam o
ensino privado enviarem seus filhos para essas instituições de nível superior,
deixando as universidades públicas federais e estaduais para as massas
populares.
E não se trata apenas do curso de medicina, mas de outras áreas do
conhecimento.
Não há o mínimo sentido de um aluno formado por instituições
privadas, que freqüenta cursinhos preparatórios, que tem acesso a um leque de
informações sob um custo elevado, precisar cursar o ensino superior numa
instituição publica.
Pode perfeitamente pagar seus estudos, muitas vezes, menos
caro que o desembolso realizado para se preparar.
O Poder Público seria menos
intervencionista, poderia dedicar-se a formação das massas, inclusive, com um
acesso maior aos cursos chamados “nobres” e cujos alunos não teriam nenhuma resistência
em retornar ao seu meio de origem e prestar um serviço de qualidade.
Evidente
que, alguns desejariam aventurar-se junto a elite brasileira, o que é um
direito, assim como um ou outro membro das classes privilegiadas adotar uma
atitude franciscana.
No caso do aluno formado pela rede público haveria a
necessidade de ser após o período de retorno ao investimento público, o que
também abrangeria outras áreas da formação acadêmica.
O que estou tentando
dizer é que a apropriação do conhecimento se transformou num investimento e
modo de preservação do status quo, portanto, um membro de uma casta social de
privilegiados tem enormes e quase intransponíveis dificuldades em conviver num
ambiente diferente ao de sua origem.
Um brâmane brasileiro atender aos sudras –
classe social destinada a servir as classes superiores – em suas convicções é
atentatório a sua liberdade. Compreensível.
Hilda Suzana Veiga Settineri
Assim, para atender aos sudras
brasileiros deve-se formar sudras, já que estes não seriam contaminados
socialmente com o contato.
Não entendo, pois, toda essa polêmica.
Compreendo as
justas resistências da secular elite brasileira aos programas e projetos de
inserção social, já que a história de suas crenças indica que nossos “sudras”
se contentem com as migalhas ou sobras que caem ao redor da mesa onde se servem
aqueles ungidos por alguma providência divina de bens e recursos – com
capacidades incomuns – para se assenhorearem-se também do conhecimento.
Não é
justo inverter essa ordem. É inconcebível aqueles que estão no topo da pirâmide
social, descerem e virem partilhar o seu saber com a base.
Agora, com a vinda
de profissionais médicos de outros países existe um enorme risco de se abalar
essa ordem piramidal, logo, como se esperar que fiquem passivos.
Devem estar
chateados, revoltados e indignados, por outro lado, as classes populares
começam a sonhar ter um médico mais próximo, acessível e que não tenha
resistência a conviver nesses imensos rincões brasileiros, onde o homem de
branco talvez, soe mais como uma dessas tantas lendas que fazem parte do
imaginário popular.
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