REFLEXÕES DE UMA EDUCADORA
Fui alfabetizada numa escola na costa do Rio Cavernoso, divisa de Laranjeiras do Sul com Candói, então distrito do município de Guarapuava e hoje emancipado.
A nossa professora, dona Lorena tinha um quadro de giz e 30 alunos sendo de primeira a quarta serie.
A merendeira era um dia ela e noutro também. Enquanto nós, alunos limpávamos a sala, todo mundo motivado, aprendíamos e ensinávamos, os maiores sempre acabavam nos ajudando em nossas tarefas. Foi aí que comecei a gostar a e pensar em ser professora.
Cresci em tempos difíceis e me formei durante o regime autoritário, sendo que meus pais eram gente simples e viviam ora como arrendatários ora como meeiros de terras.
Nessa época, falar em greves, significava ser contra-ordem e “gentilmente” éramos convidados a passar uns tempos em uma cela e ser rotulado de baderneiros, ainda que fossemos os professores, muitas vezes, dos filhos de nossos algozes.
Era tempo de aflição e nesse tempo, a música era um dos instrumentos, uma das vozes a se levantar contra a arbitrariedade.
Basta ver em Geraldo Vandré, na letra de Aroeira, a similitude:
“Vim de longe, vou mais longe
Quem tem fé vai me esperar
Escrevendo numa conta
Pra junto a gente cobrar
No dia que já vem vindo
Que esse mundo vai virar”
Quem tem fé vai me esperar
Escrevendo numa conta
Pra junto a gente cobrar
No dia que já vem vindo
Que esse mundo vai virar”
Hoje, a liberdade permite que uma professora, estando no cargo de Secretária de Educação, venha a público e diga que não negocia com grevistas...
Não conhece, por certo, a História escrita com sangue, suor e lágrimas, inclusive, de muitos professores para que houvesse a democracia e por isso, desconsidera o significado social de uma greve.
Deve ser lembrada que toda legislação trabalhista brasileira, considera a greve um direito do trabalhador consignado na Constituição.
O que uma professora ou professor vai ensinar para seus alunos em relação a luta por direitos?
Que exemplo estranho é esse?
Mas, talvez, aprendeu com um certo ex-presidente que pediu para esquecerem o que havia escrito, agora, nossa ilustre Secretária de Educação quer que esqueçamos o tempo em que defendeu bandeiras petistas e hoje, as rasga publicamente.
No som de Geraldo Vandré, todos a cantar:
“Noite e dia vêm de longe
Branco e preto a trabalhar
E o dono senhor de tudo
Sentado, mandando dar.
E a gente fazendo conta
Pro dia que vai chegar”
Branco e preto a trabalhar
E o dono senhor de tudo
Sentado, mandando dar.
E a gente fazendo conta
Pro dia que vai chegar”
Dóceis. Humilhados. Resignados a uma condição inglória, um após outro, professores estão voltando a sala de aula. O que dirão a seus alunos? Que exemplo de coragem e ousadia? O que pensarão seus alunos a respeito de sua submissão?
Nas estrofes de Aroeira, uma esperança:
“Eu também sou marinheiro
Eu também sei governar.
Madeira de dar em doido
Vai descer até quebrar
É a volta do cipó de arueira
No lombo de quem mandou dar”.
Eu também sei governar.
Madeira de dar em doido
Vai descer até quebrar
É a volta do cipó de arueira
No lombo de quem mandou dar”.
Amanhã, junto com a alegria do reencontro dos alunos, haverá no olhar cabisbaixo de cada professor, tristeza e dor. Como diz os versos de Geraldo Vandré, em Mato Grosso, na Educação, “É a volta do cipó de arueira. No lombo de quem mandou dar”. Bravos professores que não se curvaram, pois aquele que acostuma a beijar a mão que lhe açoita, não sabe o significado e tem medo da liberdade.
Hilda Suzana Veiga Settineri
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