Sonho que as crianças, do mundo todo, possam dormir quentinhas, com suas barriguinhas cheias, longe de toda e qualquer agressão física, sexual, moral ou intelectual e que todas possam usufruir das alegrias de uma infância linda e protegida. Sonho que tenham um futuro maravilhoso. Não só as crianças de hoje, mas também seus filhos, os filhos de seus filhos e também os filhos destes. Sonho com um planeta protegido, com medidas que eliminem a cobiça que destrói nosso porvir!

segunda-feira, 4 de julho de 2011

RECORDANDO LUTAS PASSADAS...



REFLEXÕES DE UMA EDUCADORA


Fui alfabetizada numa escola na costa do Rio Cavernoso, divisa de Laranjeiras do Sul com Candói, então distrito do município de Guarapuava e hoje emancipado.

A nossa professora, dona Lorena tinha um quadro de giz e 30 alunos sendo de primeira a quarta serie.

A merendeira era um dia ela e noutro também. Enquanto nós, alunos limpávamos a sala, todo mundo motivado, aprendíamos e ensinávamos, os maiores sempre acabavam nos ajudando em nossas tarefas. Foi aí que comecei a gostar a e pensar em ser professora.

Cresci em tempos difíceis e me formei durante o regime autoritário, sendo que meus pais eram gente simples e viviam ora como arrendatários ora como meeiros de terras.

Nessa época, falar em greves, significava ser contra-ordem e “gentilmente” éramos convidados a passar uns tempos em uma cela e ser rotulado de baderneiros, ainda que fossemos os professores, muitas vezes, dos filhos de nossos algozes.

Era tempo de aflição e nesse tempo, a música era um dos instrumentos, uma das vozes a se levantar contra a arbitrariedade.

Basta ver em Geraldo Vandré, na letra de Aroeira, a similitude:

“Vim de longe, vou mais longe
Quem tem fé vai me esperar

Escrevendo numa conta

Pra junto a gente cobrar

No dia que já vem vindo
Que esse mundo vai virar”

Hoje, a liberdade permite que uma professora, estando no cargo de Secretária de Educação, venha a público e diga que não negocia com grevistas...

Não conhece, por certo, a História escrita com sangue, suor e lágrimas, inclusive, de muitos professores para que houvesse a democracia e por isso, desconsidera o significado social de uma greve.

Deve ser lembrada que toda legislação trabalhista brasileira, considera a greve um direito do trabalhador consignado na Constituição.

O que uma professora ou professor vai ensinar para seus alunos em relação a luta por direitos?

Que exemplo estranho é esse?

Mas, talvez, aprendeu com um certo ex-presidente que pediu para esquecerem o que havia escrito, agora, nossa ilustre Secretária de Educação quer que esqueçamos o tempo em que defendeu bandeiras petistas e hoje, as rasga publicamente.

No som de Geraldo Vandré, todos a cantar:

“Noite e dia vêm de longe
Branco e preto a trabalhar
E o dono senhor de tudo

Sentado, mandando dar.

E a gente fazendo conta
Pro dia que vai chegar”

Dóceis. Humilhados. Resignados a uma condição inglória, um após outro, professores estão voltando a sala de aula. O que dirão a seus alunos? Que exemplo de coragem e ousadia? O que pensarão seus alunos a respeito de sua submissão?

Nas estrofes de Aroeira, uma esperança:

“Eu também sou marinheiro
Eu também sei governar.
Madeira de dar em doido
Vai descer até quebrar
É a volta do cipó de arueira
No lombo de quem mandou dar”.

Amanhã, junto com a alegria do reencontro dos alunos, haverá no olhar cabisbaixo de cada professor, tristeza e dor. Como diz os versos de Geraldo Vandré, em Mato Grosso, na Educação, “É a volta do cipó de arueira. No lombo de quem mandou dar”. Bravos professores que não se curvaram, pois aquele que acostuma a beijar a mão que lhe açoita, não sabe o significado e tem medo da liberdade.


Hilda Suzana Veiga Settineri

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