Alberto Perdigão – jornalista, mestre em Políticas Públicas e Sociedade, escreve semanalmente sobre políticas de comunicação e comunicação pública - E-mail: aperdigao@terra.com.br
Fiquei estupefato ao ouvir de um político, não faz muito tempo, a seguinte afirmação: Não gosto de Twitter, Facebook, e acho até um charme quem não usa essas redes sociais. A minha admiração não estava no gosto exótico pela estética de quem abdica de trocar informações rápidas ou de se relacionar de forma não presencial, afinal isso é algo pessoal e eu sequer entendo do que seria, talvez, uma antimoda.
O que mais me embasbacou no caso foi o fato de que aquela impressão vir de um político com mandato, que não era de muita idade ou de uma cidade isolada do interior, que não era de pouca escolaridade ou de baixo poder de compra e, ao contrário do que poderia parecer, que até já convivia com computador conectado à internet, há pelo menos dez anos.
E deixou-me admirado também o fato de aquele ator político, no exercício de um cargo público, repito, não perceber que usar as redes sociais, mais que uma obrigação legal ou moral de publicização institucional, pode ser uma oportunidade de praticar a comunicação pública e de usufruir das conexões e dos diálogos da novíssima esfera pública chamada blogosfera.
Aquele episódio fértil de significados me levou a três reflexões que agora compartilho, tentando contribuir com velhas e novas discussões sobre a tensão que se estabelece entre o ciberespaço que se tem e a ciberdemocracia que se quer. Entre a comunicação pública possível e a comunicação pública devida por gestores, parlamentares, membros da Justiça e do Ministério Público.
O primeiro ponto é que o avanço tecnológico caminha num ritmo e o avanço político caminha noutro, muito mais lento, rumo a valores como à cidadania ativa e à democracia participativa. Parece ser um descompasso que se repete na história, provavelmente seja também um fenômeno que se fundamenta na conveniência de quem não quer fazer circular a informação e o poder.
Quando pensamos em colocar serviços de e-mails do tipo fale conosco nos sites dos governos, braços operativos do Estado, por exemplo, a sociedade já está se comunicando por skype. Quando pensamos em criar blogs para políticos com ou sem mandato, os cidadãos eleitores já estão dialogando não a 100 por hora, como dizíamos analogicamente, mas a 1 milhão de dados de texto, imagem ou voz por segundo nas redes sociais.
Este cenário que empaca o diálogo e impacta a novíssima esfera pública é visto mais claramente nas cidades mais pobres dos países mais pobres, não obstante a disponibilidade e a usabilidade cada dia mais favoráveis das tecnologias da informação e comunicação, não obstante serem aquelas regiões as mais necessitadas de comunicação pública eficiente e de governança eficaz.
O segundo ponto que proponho refletir é que não há, na grande maioria das cidades brasileiras, políticas públicas de comunicação pública que estimulem a problematização, o conflito de argumentos, as deliberações públicas, e que também estabeleçam canais de expressão das opiniões e vontades desta esfera pública para governos, parlamentos, tribunais e ministérios públicos.
Este política pública que defendo deveria representar o interesse coletivo a tal ponto que se regulamentasse a obrigatoriedade do uso institucional de mídias sociais pelos ocupantes de mandatos no Executivo ou Legislativo, além de ministros de tribunais superiores, desembargadores e procuradores dos ministério públicos.
O terceiro ponto remete à necessidade de que certos agentes públicos também postem, ou postem-se, na novíssima esfera pública. Refiro-me a controladores, ouvidores e mesmo os chefes de polícia, diretores de escola, autoridades do transporte e do trânsito. Não basta a inclusão digital do servidor, é preciso promover a sua inclusão política, no sentido republicano da expressão.
Na prática, saber onde o tráfego está cortado ou as alternativas de condução para um grande evento é um direito a que se pode ter acesso pelo seu computador ou telefone móvel. Nada mais elementar que receber no Facebook as notas do seu filho ou, na via inversa, tuitar a presença de um suspeito na porta da sua casa. E que tal denunciar destratos ou corrupção num órgão público?
Quando governos, parlamentos, tribunais e ministérios públicos percebem que as redes sociais são uma rede política, fica mais rápido, mais fácil, mais barato e mais eficaz saber onde o cidadão quer a presença do Estado e a ação dos poderes públicos. E resulta mais difícil ao agente público-político esconder-se atrás da tecnocracia, que impede direitos, e da burocracia, que afasta os legítimos donos do poder.
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